
BILAL
"...começou por uma razão, acabará um dia pela mesma razão..."
Saio de casa cedo. Demasiado cedo.
Sentia-me bem na cama. Quente e reconfortado. Talvez devido ao cérebro estar meio dormente, encontrava-me em paz.
Cruzo-me com as pessoas na rua, não tardo em começar a divagar.
O cérebro tinha acordado!
Não consigo deixar de notar nas pessoas, nos seus semblantes, nas suas expressões...
Tendo perceber o que lhes vai na alma.
É dificil, impossível mesmo.
Ninguém é transparente!
Nunca se sabe o que vai na mente de outrém. Seja um desconhecido, seja alguém que julgamos conhecer bem.
Foco-me então em mim e nos meus pensamentos.
A questão surge com uma força brutal...
Quando voltarei a Amar?
Mas porque é o mais completo, intenso e gratificante sentimento que alguma vez experimentei!
Um dia, talvez...
Passaram dias. Muitos dias!...
Mais irão passar.
Tudo que tinha para dizer, tudo o que tinha para perguntar, tudo o que precisava de ouvir, tem se desvanecido no tempo.
Não desapareceu.
Mas muito se tem encaixado na minha mente e deixou de vogar livre e erradamente pelos meus pensamentos.
Felizmente e talvez finalmente, agradeço ser quem sou.
Em muitas situações ao longo da vida, a minha racionalidade irritava-me.
Mas desta vez NÃO!
Foi muito importante e é muito importante.
Desta forma, consegui tantas vezes pensar no meio do frenesim de sentimentos que me toldavam as decisões.
Afirmo com orgulho, embora nestas situações o orgulho seja na maioria das vezes um defeito.
...voltei a viver!
Fim de tarde.
Poderia ser apenas mais um, igual a tantos outros...
Mas hoje não!
Observo o sol com atenção.
Vejo cores, muitas cores. Cores que nunca tinha visto. Não sabia que o sol pudesse ter tais cores.
Contemplo em detalhe.
Aproveito cada momento.
De súbito, acabou!
Foi demasiado rápido. Fugaz!
Queria ter conseguido eternizar o momento.
Senti-me confortável durante aqueles breves instantes.
Regressado à realidade...
Todos os pensamentos que tinham ficado congelados durante aquele pôr do sol, tinham regressado.
Feriam, abusavam, violavam a minha mente...
Desci as escadas.
Vi-te de um lado para o outro a falar ao telemóvel enquanto esperavas.
Depois do cumprimento, pedimos café e sentámo-nos numa mesa por ali.
Conversámos, rimos, falámos…
Falámos muito…
Numa conversa de quem se conhece, mas de quem tem muito para dizer.
Muito para falar.
Muito para contar.
Muito para dar a conhecer.
O tempo voava!
Fomos então ao cinema e nem aí a conversa sossegou.
Absorvia o que dizias. E falava. Falava muito!
Experiências, histórias e até piadas.
Acabámos por passear mais um pouco. Levaste me então a casa.
Despedida.
Então dei comigo a pensar…
…sentia me feliz!
Fiz uma amiga.
Uma verdadeira amizade.
E como alguém já cantou…
“Hoje fiz um amigo, e coisa mais valiosa no mundo não há!”
Obrigado pelo Domingo, Amiga…
Desvio o olhar do computador, entediado com o trabalho.
Olho para a janela.
Chove.
Há muito que não chovia.
Tinha saudades da chuva.
Limpa os carros, as casas, as ruas, a cidade…
Apenas não limpa as almas!
O telefone toca. Não atendo.
Tenho a mente ocupada com a chuva que cai lá fora, que escorre pela vidraça mas que não me lava a alma!
Esta abstracção inquieta em que me encontro faz-me divagar, tanto no tempo como no espaço.
Talvez demais!...
Penso então no que desejava para um dia como este.
E não hesito.
Queria chegar a casa ao fim do dia, e ao invés de encontrar o desconforto de uma casa fria e nua, encontrar o calor das emoções do contacto humano. Alguém.
Nada me serve pedir.
Mas queria dar e receber…
Ontem disseste me:
“- Sabes, às vezes não é fácil chegar a ti!”
Na altura, não entendi a real magnitude do que me tinha sido dito.
Eram só palavras?
Não!
Foi como um ‘estalo’…
Enérgico, estrondosamente sonoro e bastante antecipado.
Despertei então momentaneamente para uma (auto) questão.
Porque ages assim?
Se o teu processo de formação pessoal tem de passar invariavelmente pela tentativa/erro.
Não tento? Não erro?
Claro que tento. Claro que erro.
Mas tentarei tanto como queria…
Quero mais tentativas, mais erros.
Hesito!
Cobardemente, continuo com receio de tentar. Não de errar, mas de tentar. De forma inconcebível vejo me inerte, ordeno o meu corpo que siga!
Ele hesita…
Eu hesito…
Despertei!
Saí de casa e o sol de Outono brilhava e espelhava nos meus óculos escuros. Seria ou deveria ser uma manhã que me recarregasse as energias.
Não.
Sentia me algo parado.Tudo parecia mover-se a uma velocidade estonteantemente superior à minha.
Insisti.
Caminhava para o emprego.
Parei como habitual no café da avenida.
“- Um café, por favor.”
Veio curto como sempre, já me conhecem por ali!
Mas algo captou a minha atenção!
Vi ao fundo duas pessoas.
Abraçavam-se…
…um abraço desejado!
…um abraço sentido!
…um abraço, simplesmente um abraço!
Entendi!
Compreendi então o meu desfasamento em relação ao que me rodeava.
Falta me o abraço!
Não o tenho…
Olá Amiga!
Hoje entraste nos meus sonhos…
Estranho? Talvez…
Em primeiro lugar, porque invariavelmente não me recordo com quem e o que sonhei, embora tenha a noção que o fiz.
Em segundo lugar, assumo que não esperava sonhar contigo. Mas não controlamos o nosso subconsciente!
Não se escolhe o que se sonha. Sei que a mente voa sem fronteiras durante as nossas horas de descanso físico.
Voa…
Vagueia…
Viaja, viaja muito, conhece pessoas e obtém experiências…
Quero muito te contar o que sonhei.
Mas não posso. Aliás, não devo!
Não quero mudar este status quo. Em suma, não quero perder a nossa amizade.
Sei que entenderias apenas como um sonho, fruto da divagação da mente humana.
Mesmo assim sei que nunca mais seria a mesma amizade.
Guardo-o então para mim!
Espero apenas voltar a sonhar…
…Contigo.